sexta-feira, agosto 18, 2006

Saudades vô...


Ontem fez três anos que meu avô faleceu...estava lembrando de quanto foi triste vê-lo dentro daquele caixão que parecia ser tão pequeno para um homem tão grande. Exatos três anos atrás eu estava toda feliz arrumando minhas coisas para fazer uma visita ao Piauí depois de tantos anos...era formatura dos meus primos, coloquei roupa de festa, sandália alta, pintei o cabelo...tudo de melhor estava na mala. Ao sair chorei, primeira vez que deixava minha filha para viajar, mas seria rapidinho e eu não podia perder essa grande comemoração.

Foi só eu e meu pai...ele dirigindo e eu pensando, pensando em tantas novidades que tinha para contar pra meus avós...pensando no tanto de tempo que eu perdi sem vê-los. Ufa!!! Que dia cansativo, muita poeira, muita comida, muita coca-cola, cheguei em Floriano com o estomago doendo. Paramos na casa de uma tia para continuar a viajem pela manhã ...mas a manhã nem chegou, era madrugada quando veio minha tia me acordar...senti uma pontada no coração...ela não iria me acordar no meio da noite porque estava com saudades da minha voz...ela nem terminou de falar...meu vô tinha falecido...a viajem que ia ser uma festa se tornou um grande martírio...as duas horas mais longas da minha vida até chegar em Marcos Parente.Encontrei com dois primos ainda em Floriano para seguirmos viagem, mas não trocamos uma só palavra...

Ao chegar...nada de gente arrumada, vestidos de festa, cheiro de alegria, muito pelo contrário.A cena foi meu vozinho deitado...tão frágil...nem de longe me lembrava aquele homem forte, grande, que até batendo de brincadeira doía.Queria muito saber por que ele não me esperou chegar, eu estava tão pertinho...tão perto de chegar, abraçar, beijar, falar pelos cotovelos...mesmo sem ele me responder.Ele estava doente já há algum tempo, mas nunca imaginei que havia me preparado toda para ir ver meu vô morto. Minha avó coitada, mas parecia uma bonequinha de pano...tão pequena, tão magrinha...todos os meus tios estavam lá.Homens que nunca imaginei ver chorar.Até pensei que eles não sabiam o que era isso, estavam do lado de um corpo que não fazia mais nada, mas que trazia um mundo infinito de lembranças...e lágrima,lágrimas...


Mesmo assim fiquei ao lado dele e contei um pouco de tudo que tinha acontecido na minha vida...ele não me viu, eu estava com o cabelão...acho que ele gostava de cabelo comprido, minha avó nunca cortou o dela.Fomos para o enterro, ele foi enterrado no cemitério da nossa família, o lugar mais lindo que tinha na Fazenda da Mata ia muito lá quando criança, com treze anos tirei uma foto em cima do tumulo da minha tia...todos falaram...mas eu adorei a foto...nada convencional aquele lugar.Túmulos, cruzes, e muitas árvores, muita gente...afinal o Felix morreu.Mas quem era ele? Um fazendeiro, um senhor tão humilde e tão grandioso...um homenzarrão que deu o tamanho de herança para os netos,os primos enormes, já as primas todas baixinhas e adivinhem? Ele deu um pouco do tamanho pra mim, era uma das mais altas das meninas.

Lições? Ai,ai muitasssssssssssssssss, incontáveis, a grande satisfação de ver a lua a noite, um céu estrelado para ele não tinha preço...por muitas vezes vi meu vô deitado em palha de arroz no meio do terreiro vendo a lua, era algo tão lindo e tão particular que nem tinha coragem de interromper esse momento, mas adquiri dele o amor pela lua, pela noite, pelo vazio e também pelo cheio, o cheio de gente fazendo tanto barulho que quase não conseguiam se entender, a conversinha na calçada da fazenda no começo da noite, o jantar as 6:00hs que eu só via lá...o arroz com abóbora e o bolooooo que era tão desejado. Não tem uma noite de lua cheia que não me lembre aquele olhar e aquela profunda admiração por aquele ser que brilha tão lindo lá em cima. Na verdade ela era muito mais do que tudo que foi dito...eu preciso mesmo lembrar que ele morreu para me acostumar, porque a presença dele é tão forte...que até esqueço
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1 Comments:

Blogger Strange Little Girl said...

É triste saber que a vida passa e as pessoas também passam. Quantas pessoas se tornam extremamente importantes na nossa vida e quase que do nada desaparecem dela?
Apesar disso, as lembranças e as lições de vida não se vão. Imagine como seria terrível não ter ninguém para se lembrar com carinho, não ter ninguém que nenha feito a diferença na sua vida?
O importante é sempre carregar esses ensinamentos, essas coisas que fizeram de uma pessoa alguém importante e desse jeito fazer mais pessoas felizes! :-D

1:40 PM  

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